É desalentador assistirmos outra greve dos professores das escolas públicas do Estado de São Paulo, o mais rico do país. Não pelos professores que estão cercados de seus direitos, mas sim pelo todo da esfera política brasileira. Entra governo sai e governo e o sistema educacional público só piora: salas de aulas superlotadas, professores com salários irrisórios, escolas desaparelhadas, alunos mal alfabetizados, reformas ineficazes etc
Educação e Saúde, sempre foram e são duas bandeiras de reformas e promessas de mudanças desde o fim da ditadura no início dos anos 80. Não defendo a ditadura, apenas a uso como parâmetro para dizer que nada mudou há mais de 30 anos. Cadê o dinheiro destinado à Saúde e à Educação, únicos pilares capazes de sustentar a verdadeira democracia?
Desconheço a resposta, mas sei que a escola pública brasileira é desta forma porque abriga a classe baixa. A classe média, que reclama do pagamento de impostos que realmente é altíssimo, não consegue fazer uma ponte e cobrar o retorno a esse achaque. Se cala, paga e mantém seus filhos em colégios particulares, além de custear os caros planos de saúde. Assim sente-se protegida para continuar a trabalhar muito, conquistar bens materiais às duras penas e xingar o governo especialmente nas épocas das declarações de renda. Não sobra tempo para mais nada além de trabalhar, pagar e tirar raras férias. Lembro aqui que os pobres também pagam impostos embutidos nos produtos etc.
Os alunos das escolas públicas hoje contam com o Enem para lutar por vagas em universidades públicas, especialmente em cursos de ponta como Medicina. Até então, as vagas das universidades, como USP, por exemplo, paga com os impostos de todos, eram integralmente preenchidas por alunos filhos da classe média e alta que estudaram em colégios caros. Esta inversão continua a vigorar e raríssimos são os alunos pobres que conquistam este espaço. Aos alunos das escolas públicas, restavam e restam as universidades pagas.
As escolas públicas não contam sequer com os filhos de professores de universidades públicas, políticos e outros trabalhadores pagos pelo Estado. O que acontece? Se todos ganham do Estado e trabalham no Estado deveriam confiar neste Estado. Mas como confiar num Estado que gerencia mal a Educação (e outros setores como a Seguranças Pública), e fez com que a escola públicas e transformasse para muitos sinônimo de barbárie?
Quando uma greve estoura, é porque todos os recursos de negociação foram esgotados. Na educação, o governo prefere dizer que a culpa é dos professores. Não! É da classe política brasileira e da classes abastadas que ignoram o assunto porque tem dinheiro para pagar colégios caros e pouco se comprometem com a sociedade. Isso para eles é coisa de idealistas, filósofos e sonhadores.
Enquanto isso, professores, além de ganhar mal, se defrontam com alunos analfabetos em séries avançadas, porque o governo manda passá-los de ano a qualquer custo na tal da Progressão Continua. O Programa eleva os índices de aprovação sem considerar o aproveitamento do aluno. A culpa não é do professor que tentou alfabetizar esta criança e teve que perder tempo em organizar a vida emocional deste aluno fruto de famílias completamente desestruturadas.
É bom lembrar que os pais desses alunos também são produtos deste sistema que tapa o sol com a peneira e acredita que dando-lhes emprego para garantir seu arroz e feijão e a famigerada e necessária bolsa família, está educando um ser socialmente. A bolsa é desvinculada de qualquer programa de educação social, funcionando como uma esmola para quem envia seu filho à escola. É preciso mais que isso para criar cidadãos com responsabilidade e consciência.
É preciso reformular a escola. A ela cabe o ensino, ao Estado cabe educar a sociedade mal-educada e repleta de mal-exemplos de políticos que metem a mão no dinheiro público e continuam impunes sem que ninguém, inclusive o governo, peça Justiça e a devolução do dinheiro roubado por gente, inclusive, muito bem educada.
Com isso provamos que educação em colégios caros, não assegura a qualidade de caráter. Mas a verdadeira Educação seja nas escolas públicas, seja nos colégios privados, pode nos assegurar caminhos de retidão para saber que o "sucesso" nem sempre está nas contas bancárias polpudas, mas indecentes. Pode estar sim na convivência diária de grupos de pessoas limpas, honestas, críticas que trilham caminhos para uma sociedade mais justa e humana, livre a violência e da degradação social e política que enfrentamos. Nesta sociedade políticos corruptos e pessoas que apóiam a corrupção não teriam vez, então para que educar?
Os professores já não sabem o que fazer e muitos enfrentam problemas de desgastes emocionais e mentais. Estão há quatro anos sem aumento salarial significativo. Recebem R$ 88,00 de auxílio alimentação o que equivale a quatro reais por dia e se deparam com mimeógrafos por falta de material de impressoras, entre outros absurdos que afetam a carreira do profissional.
E diga, o(a) senhor(a) estimularia sua filha a ser uma professora no Estado, cujo salário inicial é de chorar? Nada contra, mas uma faxineira concursada no Judiciário, com formação do ensino fundamental recebe bem mais que professores novatos, além de contar com vale refeição digno e assistência médica decente por 6 horas diárias de trabalho.
E olha que a faxineira não tem que "preparar a limpeza", levar vassouras, outros materiais de higiene de sua casa, como fazem muitos professores para assegurar a qualidade do seu trabalho. Vivemos, na verdade, uma Educação mal educada pelos políticos que sabem enganar bem os deseducados.
fonte: Márcia de Oliveira
jornalista
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